Quem desalenta?
Por Guilherme Martins
O termo desalentado requer uma compreensão mais aprofundada sobre características formais de trabalho e perspectivas de futuro. Encontrar-se na posição de desalentado significa estar fora do mercado de trabalho tradicional, ausente das salas de aula, além de acreditar não existir espaço no campo de empregos formais para sua potencialidade. Essa realidade afeta milhões de brasileiros e preocupa pela profundidade do problema, dado que uma pessoa desalentada está apta para assumir um cargo de trabalho formal, mas desistiu de buscar por oportunidades no mercado. Essa população, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 4,8 milhões de pessoas.
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Dessa forma, é necessário que exista uma análise mais sensível quanto às razões que levam os indivíduos a desistirem de procurar por oportunidades de emprego. Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) cruzou dados oficiais e demonstrou que fatores como idade, falta de oportunidade, não encontrar a ocupação adequada e a exigência de alta qualificação no currículo são os principais motivos para essa desistência. Para uma jovem, de 28 anos, que preferiu não ser identificada, a superlotação em sua área de graduação e a baixa oferta de vagas em órgãos públicos foram fatores cruciais que a fizeram abandonar a procura por emprego.
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A jovem moça formou-se em direito em uma instituição privada no ano de 2017, quando decidiu focar sua atenção para concursos públicos. Todavia, com o passar dos anos a advogada viu-se obrigada a abrir seu leque de opções e procurou opções de empregos tradicionais para sua área, como trabalho em escritório ou em firmas de advocacia. Contudo, a busca acabou sendo insatisfatória. “Eu percebi que meu currículo era, muitas vezes, bom demais para determinadas vagas. Eles [firmas de advocacia] não queriam contratar uma advogada formada, querem estagiários, que são mão de obra barata”, comentou.
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A entrevistada relata que essas negativas de empresas e a baixa oferta de concursos públicos a desmotivaram a continuar buscando por emprego. “Eu decidi parar, estava cansada de me humilhar por vagas, não é para sempre, mas neste momento não estou disposta a procurar por emprego algum”, afirmou a jovem. Além disso, outra razão que prejudica a saúde mental da advogada é a pressão social que os jovens sofrem para serem bem sucedidos desde muito cedo. A moça relatou estar exausta com as cobranças de familiares e amigos. “As pessoas não entendem que estar nessa situação não é opção minha, é claro que eu gostaria de estar em uma posição privilegiada, mas não estou”, pontuou. As inseguranças quanto ao potencial pessoal começam a surgir, fazendo com que muitos indivíduos que também se encontram na mesma posição da jovem desenvolvam problemas psicológicos sérios.
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Diante dessa realidade, a psicóloga Juliana Murta explica como fatores psicológicos podem se apresentar para desalentados e as consequências negativas que o desânimo quanto às perspectivas de futuro prejudicam uma vida saudável. Para Juliana, com o desemprego contínuo, a pessoa fica suscetível a alguns transtornos mentais, como depressão e baixa autoestima. A psicóloga explica que é comum que os desalentados passem por um rebaixamento da autoestima e aumento da insatisfação com a qualidade de vida, dado a incerteza e a insegurança que uma vida sem perspectiva de emprego ocasiona:
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Juliana também ressalta a violência psíquica que o mercado de trabalho pode apresentar aos jovens que estão iniciando a carreira. Para ela, há uma naturalização e romantização de pessoas jovens em situações degradantes de trabalho, por exemplo aceitando jornadas de trabalho extremamente exaustivas para se provar bom empregado logo na primeira experiência de trabalho. Portanto, ela analisa que esse pensamento está fazendo com que jovens adoeçam cada vez mais cedo, podendo ocasionar problemas graves no futuro, além de aumentar a pressão que essa parte da população coloca em si mesmos. Juliana finaliza refletindo o problema como uma questão social que afeta principalmente minorias sociais, mas que é passível de ser controlado desde que haja um investimento governamental desde os primeiros momentos do ingresso dos indivíduos em suas áreas de profissionalização.
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